quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Papo com lobista de indústrias: o outro lado da negociação sobre o clima



Adital
Evelyn Araripe
Agência Jovem de Notícias
Como funciona uma negociação sobre o clima? De um lado, você tem os governos, tentando (frustradamente) criarem um documento conjunto, que determine como reduzir, ao máximo, os impactos que podem ser causados pelas mudanças climáticas; do outro, você tem variadas representações da sociedade civil, defendendo suas ideias e ações, para garantirem que o acordo seja justo. No entanto, no meio desse bolo todo, chamado "sociedade civil”, nas negociações também atuam as indústrias, que terão suas atividades impactadas, de acordo com o que for definido na Conferência ONU sobre o Clima (COP21), em Paris.
cop21A Agência Jovem de Notícias conversou com Joachim Hein, representante das indústrias da Alemanha, pelo BDI (Bundesverband der Deutschen Industrie). Hein conta como eles constroem posicionamentos, sobre a preocupação com as mudanças climáticas, a responsabilidade das indústrias e sobre as dificuldades em aderir e implementar o que é proposto pelos governos.
O BDI é uma representação das associações das indústrias dos mais variados setores, na Alemanha. Por isso mesmo, Hein explica que é muito difícil construir um posicionamento que represente a visão de todos. Ao longo do ano, eles realizam encontros e montam grupos de trabalho, para, ao final, criar um documento com pontos importantes para a indústria desse país, e trazem isso para as negociações do clima, com o objetivo de defendê-los.
"Muita gente acha que as indústrias não se preocupam com as mudanças climáticas, mas é claro que elas se preocupam; isso interfere na maneira como elas vão produzir e existir”, diz. Porém, ele argumenta que o mais comum é as pessoas jogarem a responsabilidade sobre as empresas, mas sem nenhuma proposta efetiva de como essa transição para um modelo sustentável de produção seja implementado ou financiado. "Por exemplo, a proposta de 100% de energias renováveis até 2050. É possível? Claro que é possível. Se tiver investimento, é possível. Mas como investir? De onde virá o dinheiro? Como será implementado? Como fazer os custos serem eficientes? São muitas questões por trás disso”, defende.
Como representante do setor industrial alemão, Hein também explica que o seu país já tem uma legislação ambiental muito rigorosa, o que faz com que as indústrias já se apliquem a modelos sustentáveis de produção, que estão sendo discutidos nas negociações sobre o clima. "Muitas vezes, o que se propõe em uma COP é até mais simples do que a legislação ambiental da Alemanha”, diz.
Perguntado sobre o que ele achava das empresas também financiarem a transição para modelos mais sustentáveis via Fundo Climático Verde (uma das discussões que está ganhando destaque nesta COP21), ele diz que até acha justo o setor privado contribuir com isso, mas considera que já é feito. "Afinal, de onde vem o dinheiro público para financiar isso? Muitas vezes, dos impostos que o setor privado paga”. Por isso, em vez das empresas financiarem separadamente o Fundo Climático, ele defende que os governos criem uma taxa extra para as empresas, em que todo o dinheiro seria revertido para o Fundo.
Por último, ao ser questionado sobre a relação entre indústrias e organizações da sociedade civil, ele diz que, na Alemanha, eles conseguem se relacionar muito bem com algumas ONGs, mas encontram muitas dificuldades com outras. Para ele, a diferença está em saber ouvir. "Algumas ONGs aceitam nos escutar, entender o nosso posicionamento e como as coisas funcionam. Isto não significa que elas concordem com a gente, mas elas também nos escutam. Outras ONGs simplesmente fazem protestos, apontam o dedo, dizendo que fazemos errado, somos mal intencionados, mas eles nem sequer nos apresentam uma proposta efetiva de solução”, argumenta Joachim Hein.
Para ele, o papel da sociedade civil nas negociações é extremamente importante, principalmente da juventude, mas ele considera que os jovens, muitas vezes, focam muito em fazer ações e não se debruçam profundamente na parte política, que é onde as negociações acontecem de fato. "Precisamos de mais jovens interessados em política, a fim de negociar profundamente o que está na mesa”, finaliza.

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