segunda-feira, 21 de julho de 2014

Globo corta debate sobre cotas raciais que virou barraco

Debate sobre cotas raciais vira barraco na Rede Globo e emissora corta às

pressas. Entre os participantes estavam Douglas Belchior, militante do

 movimento negro e Roberta Fragoso, advogada do DEM

pedro bial na moral
A Globo cortou em cima da hora um debate sobre cotas para negros no programa Na Moral da
última quinta-feira, que abordou o racismo. A discussão apareceu nas chamadas exibidas
algumas horas antes de o programa ir ao ar, mas foi eliminada da edição final. De acordo com participantes, o debate foi “violento”, virou um grande barraco, mas o motivo do corte foi outro.
Segundo a Globo, a produção descobriu que uma das participantes está registrada no TSE
 (Tribunal Superior Eleitoral) como candidata nas eleições deste ano e não poderia aparecer na
 TV, conforme a legislação eleitoral. A emissora alega não ter sido informada sobre a 
candidatura dos convidados.
Na verdade, dois convidados do programa serão candidatos: a desembargadora Luislinda
Valois, primeira juíza negra do Brasil, e Douglas Belchior, militante do Movimento Negro,
ambos favoráveis às cotas. Contra as cotas, foram convidados a procuradora Roberta Fragoso, advogada do DEM, e o estudante negro Éder Souza.
O debate sobre cotas foi cortado no início da noite de quinta-feira. O programa que foi ao ar
se limitou a mostrar uma conversa entre atores da Globo sobre a representação do negro 
nas novelas. A rigor, não houve debate e os contrapontos que caracterizam o Na Moral.
A edição do Na Moral sobre racismo foi gravada no dia 28 de junho. A proposta inicial era ter
duas partes, uma sobre o negro nas telenovelas e outra com o debate sobre cotas raciais.
Em função do corte, o programa ficou menor (cerca de 10 minutos mais curto do que as
edições anteriores).
Na primeira parte do programa, participaram as atrizes Taís Araújo e Zezé Motta, o ator 
Aílton Graça, o diretor Daniel Filho e o cineasta Zito Araújo.

Barraco

Durante a gravação do bloco sobre cotas, que acabou não indo ao ar, o debate esquentou e 
virou bate-boca com muita gritaria. Pedro Bial teve que intervir em diversos momentos e pediu 
a Thiaguinho para cantar e acalmar os ânimos.
“O debate no programa foi violento. Não fiquei chateada, mas o público perdeu muito”, diz a
 advogada do DEM Roberta Fragoso, contrária às cotas, que lamenta o debate não ter ido ao
ar: “O programa ficou péssimo. Não teve debate nenhum, só a opinião de atores da Globo 
sobre o negro nas novelas”.
Para Roberta, que é branca, os convidados aproveitaram o Na Moral para fazer campanha
eleitoral: “Eles agiram de má-fé. Sabendo que são candidatos, não poderiam aceitar o convite 
do programa”.
Candidato a deputado federal pelo PSOL-SP, Douglas Belchior se defende: “Não havia 
candidatura oficial na gravação do programa, que foi no dia 28 de junho. Os registros se 
deram apenas no dia 5 de julho. Mas, independentemente disso, não havia nenhuma
orientação de que pudesse gerar algum problema. Eu mesmo desconhecia a tal regra e, afinal, sabemos que ela é seletiva, não é?”.
O militante do Movimento Negro lamenta o corte do debate no Na Moral, mas não ficou
espantado: “O debate foi acalorado desde o início. Uma pena não ter ido ao ar. Não estou
 frustrado, tampouco surpreso. A Globo é a Globo, jamais deixará de ser. Só lamento não ter
 podido levar para milhões de brasileiros nossa mensagem de combate ao racismo. O país
 ainda se nega a debater e enfrentar este assunto”.
A Globo disse apenas que o debate teve de ser cortado em cumprimento à Lei Eleitoral.

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