quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um caminho para salvar a cafeicultura brasileira


Por Eduardo Cesar Silva (MyPoint Pro) e Luiz Gonzaga de Castro Junior
postado há 19 horas e 20 minutos atrás

Ao longo da história existe a tendência do nosso mundo se tornar cada vez mais complexo. A ciência e tecnologia criaram objetos cada vez mais elaborados, a economia movimenta oceanos de dinheiro em segundos, o fluxo de informações se tornou gigantesco e a agricultura, por sua vez, passou a utilizar novas máquinas, técnicas e produtos. Diante desse ambiente complexo, exige-se cada vez mais do intelecto humano. É preciso dominar os conhecimentos e técnicas mais atuais, sob o risco de ser superado pelos competidores.

O empresário que não anuncia na internet está em desvantagem diante daquele que anuncia. O comerciante que não recebe pagamentos via cartão de crédito está em desvantagem diante do que recebe. O cafeicultor que não faz a gestão financeira de custos de produção está em desvantagem comparado ao que faz.

A agricultura passou por uma grande revolução tecnológica. Graças a ela a produtividade de todas as culturas cresceu de forma espetacular. Mas isso cria um desafio aos agricultores: é preciso produzir tanto quanto a tecnologia disponível permita. Menos do que isso resultará em ganhos menores por hectare. A obtenção de uma boa produtividade depende de uma série de conhecimentos técnicos, tais como fitotecnia, fitopatologia, fisiologia, física dos solos e outros mais.

Mas a agricultura complexa não depende apenas de produtividade. O sucesso econômico dessa atividade também depende de várias especializações da administração e até de algum conhecimento jurídico. É comum observar em fóruns e portais noticiosos cafeicultores se queixando dos lucros obtidos por traders e torrefadores internacionais, como se isso fosse resultado apenas do uso de poder econômico. Não negamos que a concentração de mercado possa ter algum efeito negativo nos preços, mas esse com certeza não é o único motivo. Essas empresas investem alto em gestão, marketing e pesquisa. É um trabalho feito por profissionais qualificados. Todos eles utilizam o mercado futuro, mas quantos produtores travam o preço dessa forma?

Para que a cafeicultura brasileira se mantenha competitiva é fundamental que os cafeicultores recebam os conhecimentos técnicos necessários e tenham acesso a informações de qualidade. Nossa proposta é que se invista mais na capacitação do próprio cafeicultor, de modo que ele seja capaz de tomar decisões melhores. Não queremos, com isso, transformar todos os cafeicultores em técnicos ou agrônomos, mas oferecer um conjunto de conhecimentos que permitam o julgamento adequado de problemas e o caminho para sua resolução. Para muitos cafeicultores, por exemplo, ter consciência da importância da análise de solo e saber a forma correta de coletar as amostras já seria um avanço. Não é preciso saber interpretar o resultado da análise, mas entender sua importância.

Em uma pesquisa realizada com 144 cafeicultores do Sul de Minas, divididos entre certificados e não certificados, o nível de escolaridade apresentou o seguinte resultado, conforme a figura 1:


Figura 1 – Nível de escolaridade de cafeicultores certificados e não certificados do Sul de Minas. Fonte: Silva (2012).

Na mesma pesquisa foi questionada a participação dos cafeicultores em cursos e treinamentos, como mostra a figura 2:


Figura 2 – Participação de cafeicultores certificados e não certificados do Sul de Minas em cursos e treinamentos. Fonte: Silva (2012).

Inúmeros estudos, feitos em diferentes países e com diferentes culturas, mostraram que maiores níveis de escolaridade por parte dos agricultores aumentam a probabilidade de utilização de tecnologias e processos mais sofisticados, tais como irrigação, rastreabilidade, certificação e até a produção de café cereja descascado. A partir desses resultados, é preciso pensar em alternativas de educação para produtores e, principalmente, para seus filhos.

Cafeicultores que detenham conhecimento adequado, além de produzirem mais, terão condições de tomar decisões melhores, mesmo em épocas de crise. O conhecimento, nesse caso, é uma chave para a liberdade de cada cafeicultor. Um homem com boa instrução não se deixa enganar facilmente, identifica os problemas da sua lavoura e busca soluções. Essa é a realidade que queremos para os cafeicultores nacionais.

No próximo artigo discutiremos diversas inciativas que oferecem soluções para os desafios apresentados neste texto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, E. C. Fatores Determinantes da Adoção de Certificações Socioambientais em Propriedades Cafeeiras. 2012. 103 p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2012. 

Direitos reservados
Este artigo é de uso exclusivo do CaféPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário