terça-feira, 27 de agosto de 2013

Pior seca em 30 anos na África agrava situação de insegurança alimentar



Cientistas afirmam que mudanças climáticas estão intensificando as secas, que já afetam dois milhões de pessoas e podem deixar regiões inteiras inabitáveis.

Diário Liberdade
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Atualmente, a África enfrenta sua pior seca em 30 anos, com efeitos particularmente devastadores para o norte da Namíbia e o sul de Angola. São dois anos de escassez de chuvas nas regiões, que normalmente já sofrem por serem desérticas, e os resultados são aproximadamente dois milhões de habitantes africanos prejudicados, sendo que destes, cerca de 100 mil crianças encontram-se em risco de desnutrição aguda.
Como não é novidade, os cientistas sugerem que, embora não sejam as causadoras desses extremos, as mudanças climáticas os intensificam, e num futuro próximo já podem tornar vários desses locais de condições mais áridas simplesmente inabitáveis.
A frequência desses acontecimentos, que também ocorreram recentemente no Zimbábue, mostra que o problema está longe de diminuir, e a dificuldade em determinar variações climáticas locais agrava ainda mais a situação.
"As mudanças climáticas e a pressão ambiental estão tornando a vida cada vez mais difícil para os mais pobres e mais marginalizados em comunidades remotas, onde a vida diária já é muito desafiadora para as crianças. Escassez de alimentos e água agora aumentam a probabilidade de doenças e desnutrição", colocou Steven Allen, diretor regional da UNICEF do leste e sul da África, ao mongabay.com.
"Relatórios de campo já indicam que as crianças estão saindo da escola e estão sendo separadas de seus pais, um sinal claro do estresse e vulnerabilidade que as famílias enfrentam à medida que tentam lidar com a seca", acrescentou Allen.
"A humanidade precisa encontrar formas e meios de mitigar esse efeito", observou Hifikepunye Pohamba, presidente da Namíbia, quando declarou estado de emergência em maio.
De fato, a intensificação das secas acarreta em diversas mudanças para as estratégias de segurança alimentar, já que, por exemplo, o fenômeno não só prejudica a agricultura como também a pecuária, que depende diretamente da água e vegetais para sobreviver.
Dessa forma, torna-se mais difícil para as famílias garantirem seu sustento direta e indiretamente, já que muitas vezes o gado e seus produtos não são utilizados apenas para consumo próprio, mas também para venda.
A UNICEF está pedindo US$ 21,7 milhões para seus esforços na Namíbia e Angola, sendo que o governo namibiano já forneceu US$ 20,7 milhões para sua população impactada. A entidade afirma que a situação deve se agravar nos próximos meses.
Para controlar esse tipo de crise, em junho a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apresentou informações sobre como pequenos agricultores podem responder às mudanças climáticas.
A lista inclui manejo de solo e nutrientes, melhora na coleta e armazenamento de água, entender e lidar com as mudanças na distribuição de doenças e pestes, utilizar colheitas e sementes diferentes em um mesmo solo, tornar a colheita mais eficaz para evitar perdas, usar espécies de plantas benéficas (armazenamento de água, estoque de carbono, nutrientes para o solo) e programar colheitas conforme o desenvolvimento das plantas.
Os dados mostram que algumas iniciativas levando em conta esses pontos já estão sendo colocadas em prática, como o teste de três novas variedades de trigo mais bem adaptadas às mudanças climáticas na Zâmbia.
Na Etiópia, por exemplo, uma forma inovadora do uso da terra ajudará a segurança alimentar tanto durante secas quanto em tempestades: pequenos grupos de aldeias constroem casas a partir de ramos de eucalipto resistentes, diminuindo o risco de incêndios causados ou pela seca ou por raios.
"Nossa principal prioridade é criar resiliência ao impacto das mudanças climáticas e ajudar nossos agricultores em pequena escala a serem mais autossuficientes", disse Mulat Andargay, coordenador de projeto.
Além disso, o projeto criou um sistema de coleta de água subterrânea que é canalizada posteriormente para irrigação. "É muito importante para nós. Agora temos muito mais água para irrigar nossos campos, e não apenas dependemos da chuva", comentou um dos agricultores participantes.
A FAO também afirma que a disseminação de informação também é uma das ações prioritárias no sentido da adaptação às mudanças climáticas, e cita como exemplo a transmissão de previsões meteorológicas, a criação de mecanismos para melhorar a atualização de fontes de dados e a melhora da informação passada aos agricultores no sentido da adaptação.

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