segunda-feira, 29 de julho de 2013

Com homicídios em queda, polícia de Nova York lida com violência doméstica

À medida que o número de homicídios em Nova York atinge níveis historicamente baixos, o Departamento de Polícia intensifica seus esforços para combater uma fonte particularmente persistente de mortes: a violência doméstica.

Joseph Goldstein
Luzes do Empire State Building iluminam a neblina, em Nova York (EUA)
Luzes do Empire State Building iluminam a neblina, em Nova York (EUA)
Ao longo dos últimos anos, o departamento reforçou o quadro de sua unidade de violência doméstica em cerca de 40%, com 450 policiais agora focados nas famílias com histórico de violência. A polícia está efetuando mais detenções ligadas a violência doméstica, resultando na queda dos homicídios ligados a violência doméstica.

Como parte de seu trabalho, os policiais realizam um total de 70 mil visitas precautórias por ano a esses lares. Cada delegacia na cidade também mantém uma lista de "alta propensão" de cerca de uma dúzia de lares que recebem atenção especial, porque são supostamente os que apresentam maior risco de violência. Em suas visitas, a polícia elabora planos de segurança com as vítimas, procura por evidência de novos abusos e, quando um agressor supostamente deveria deixar o lar, por sinais de seu retorno.

Kori LaVonda, sem-teto veterana do Exército dos EUA. Especialistas dizem que o trauma sexual militar, ou TSM, provocado por assédio ou violência sexual durante o serviço militar, pode levar a distúrbio de estresse pós-traumático que facilita a entrada dessas veteranas em situação de rua
"Você checa se a mulher exibe hematomas; você olha a casa em busca de móveis quebrados", disse a detetive Dale Edwards, descrevendo o que ela faz durante uma visita doméstica. "Você faz perguntas. Tenta tratar o assunto de modo tático."
Como na maioria das cidades americanas, a taxa de homicídios em Nova York caiu significativamente ao longo da última década, para uma média de menos de um por dia nos primeiros seis meses de 2013. A tendência em Nova York é atribuída em parte ao Departamento de Polícia ter voltado seus recursos contra as gangues de bairro e na retirada das armas das ruas. Agora, com os esforços para redução dos homicídios ligados à violência doméstica, o departamento acredita que está testemunhando sucesso em uma área antes considerada intratável.

Em 2011, ocorreram 47 homicídios envolvendo "parceiros íntimos" –uma categoria que inclui cônjuges, namorados e namoradas, antigos e atuais. Ocorreram 39 homicídios desses no ano passado, e até quarta-feira, 27 neste ano. (Historicamente, cerca de 80% das vítimas de homicídios envolvendo parceiros íntimos na cidade são mulheres.)

"Eu acho que essa abordagem pró-ativa teve um papel significativo na redução dos assassinatos", disse o comissário de polícia, Raymond W. Kelly, em uma entrevista.
Em 2011, o Departamento de Polícia ficou alarmado com um aumento repentino nos homicídios envolvendo violência doméstica, provocando uma revisão interna e, no final, muitas mudanças. Entre elas, sob Kelly, a designação para as unidades de violência doméstica de postos de detetive, um atrativo significativo para policiais jovens e ambiciosos e um sinal de que o departamento estava tornando o trabalho prioritário.
Mais ênfase também passou a ser dada à coleta de evidência. Após uma agressão física, por exemplo, os agentes de violência doméstica são obrigados a visitar a vítima um dia ou dois depois para fotografar hematomas que podiam não estar visíveis durante a resposta inicial dos policiais.

No Queens, o endereço de Viridiana Victorio foi adicionado à lista de observação da delegacia local, depois que o namorado dela a agarrou pelo pescoço e a estapeou em 2011, um dos milhares de casos de agressão doméstica apenas no distrito. Mas algo no caso de Victorio  levantou uma bandeira vermelha para a polícia. Os policiais começaram a visitar o apartamento dela para oferecer apoio e para confirmar que o namorado, Angel Pérez-Rios, estava mantendo distância, como a medida cautelar da Justiça ordenava.

A 20ª visita deles ocorreu há um mês, em 25 de junho. Um pequeno detalhe –como a presença de uma garrafa de cerveja ou dois copos, segundo a polícia– levou os policiais a perguntarem se Pérez-Rios tinha voltado. Victorio e seus filhos disseram que não.

Mas Pérez-Rios tinha se mudado de volta para o apartamento. A polícia diz que ele a matou com uma facada uma semana depois. Ele agora é acusado de homicídio.
"O comissário de polícia queria saber, nós fizemos tudo o que era humanamente possível para ajudar aquela pessoa?" disse a chefe Kathleen M. O'Reilly, responsável pela unidade de violência doméstica. "Eu disse que nós categoricamente fizemos de tudo, exceto nos mudarmos para a residência dela."
O caso ressalta o desafio enfrentado pela polícia, mesmo após identificar uma situação de violência doméstica com probabilidade de escalar a um homicídio.

Em 2012, a polícia respondeu a 263.207 chamadas de violência doméstica.

A chefe do birô especial de vítimas no gabinete da promotoria do distrito de Manhattan, Audrey Moore, disse que à medida que os casos dão entrada, sempre há uma pergunta na mente dos promotores: "Seria este um caso onde ele irá matá-la?"

A polícia usa um programa de computador para realizar uma busca nos relatórios policiais por palavras preocupante como "matar", "suicídio" e "álcool", para ajudar os policiais a priorizarem os casos de maior risco.

O Departamento de Polícia também começou a fazer um maior uso dos milhões de casos de violência doméstica abertos ao longo dos anos. Agora, toda vez que um caso de violência doméstica é aberto, todos os casos anteriores relacionados à vítima são enviados ao policial encarregado.

Mas o departamento também depende dos instintos dos policiais e do medo das vítimas na hora de decidir quem colocar nas listas de alto risco.

A próxima vítima pode nem mesmo estar no radar dos policiais dedicados ao trabalho de violência doméstica. Menos de um quarto das vítimas e perpetradores dos homicídios domésticos teve contato com a polícia no ano que antecedeu o homicídio, segundo estatísticas municipais.

Ao longo da última década, promotores por toda a cidade mudaram sua abordagem em relação aos casos de violência doméstica, contando mais com evidência física que os permita abrir os casos mesmo quando as vítimas se reconciliam com o agressor e param de cooperar.

Os promotores tiveram sucesso em usar chamadas telefônicas gravadas de Rikers Island, de onde maridos e namorados encarcerados frequentemente ligam para as vítimas para persuadi-las a mentir sobre a agressão. No Queens, os promotores começaram a pedir à Justiça os registros telefônicos das vítimas e réus para demonstrar o contato entre as partes, fornecendo uma explicação ao júri para a mudança da história por parte da vítima.

O gabinete da promotoria do Brooklyn começou recentemente a usar luz ultravioleta para encontrar evidência de ferimentos no pescoço que possam não gerar hematomas visíveis em casos de estrangulamento.

"Nós estamos sempre procurando por algo que está faltando, por algo que possa provocar uma resposta melhor", disse O'Reilly, que dirige a unidade de violência doméstica desde 2011.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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