terça-feira, 30 de abril de 2013

Gestão paroquial. Entusiasmo é fator primordial. Entrevista com pe. José Nacif Nicolau



 
Marcelo dos Santos
Diretor editorial da Revista Paróquias & Casas Religiosas
Adital
"O gerenciamento de qualquer instituição e em especial da instituição religiosa deve ter presente a fixação de objetivos, com metas claras, determinação de prioridades, as estratégias a serem usadas e em especial a revisão, o balanço do que foi executado. Voltar com seriedade ao método Ver, Julgar, Agir, Rever, deixado à margem desde a conferência do CELAM em Santo Domingo. Além disto, um conceito bastante esquecido é o Humor que é o menor caminho entre as pessoas de uma comunidade.", afirma José Nacif Nicolau em entrevista concedida a Marcelo dos Santos, diretor editorial da Revista Paróquias & Casas Religiosas. A íntegra da entrevista, que publicamos a seguir, nos foi enviada pelo entrevistado, José Nacif Nicolau.
José Nacif Nicolau, é padre, assessor teológico e canônico da diocese de São João del Rei, MG, psicoterapeuta graduado em psicologia clínica pela Universidade federal de São João del Rei (UFSJ), com mestrado em Direito canônico pela Universidade S. Tomás de Aquino (Angelicum) em Roma, ex-professor dos Institutos Superiores ISTA de Belo-Horizonte e ITASA de Juiz de Fora, em MG.
Confira a entrevista.
Como é que um gestor criterioso deve olhar o contexto eclesial?
Em primeiro lugar seu olhar deve ser, na expressão usada no blog de Bill Gates, que deixou a Microsoft para se dedicar totalmente a causas humanitárias, filantrópicas em todo o mundo, em especial na África, deve ser de um olhar "otimista impaciente". Otimista porque no contexto eclesial muitos avanços aconteceram, mas impaciente porque o mundo caminha a uma tal velocidade enquanto o contexto eclesial de hoje parece ser o de um burrinho puxando uma carroça, com móveis fora de uso, numa grande avenida da capital. Deve ser um olhar que sabe ir além do visível; um olhar amplo de que tal contexto tem múltiplas faces, um contexto eclesial onde predomina um pluralismo saudável na eclesiologia; um olhar que não pode cair na acomodação do já conquistado.
Quais pistas o sacerdote pode seguir em uma análise pessoal e vocacional em seu ministério na Igreja?
Em primeiro lugar ir além do vocabulário e do sentido da palavra "sacerdote". Sacerdote está ligado ao culto e é necessário no ministério, sobretudo hoje, ampliar mais a dimensão profética e pastoral. No ministério ser um presbítero: aquele que está caminhando lado a lado com o Povo de Deus, firme na fé e na esperança "como se estivesse vendo o invisível" conforme Moisés que com tanta segurança andava com seu povo no deserto (Hebreus 11,27).
Outra pista: não ser o catalogador de saudades, mas o amante da fantasia e do sonho. Ter presente em sua análise a manutenção da fantasia pela vida. A vida é a essência da mensagem bíblica. Deus fala e diz VIDA! Ter fantasia pela vida quer dizer procurar com todos os homens e mulheres o pão cotidiano. Quer dizer proteger a vida. Quer dizer humanizar a vida. Quer dizer saber motivar a vida, porque ela deve ter um sentido. Quer dizer considerar a vida na luz da raça e da gratuidade.
Como o código de direito canônico pode ser articulado com a prática/eclesial?
Será possível articulá-lo se se tiver bem presente no coração e na ação o último cânon 1752 que diz: ter "diante dos olhos a salvação das pessoas que, na igreja, deve ser a lei suprema." A lei está a serviço da vida. Não sermos escravos da lei nem escravizar os outros com ela. Se estivermos atentos ao cânon 530 deduziremos o quanto nossa prática eclesial deve estar articulada com as funções nele explicitadas. Tal cânon especifica que para cumprirmos diligentemente o ofício de pastor é necessário um esforço para conhecer os fiéis; visitar as famílias participando de suas preocupações, de suas angústias e dores; ajudar com exuberante caridade os doentes; ter uma dedicação especial aos pobres, aos aflitos e solitários, aos exilados e aos que passam por especiais; incentivar a vida cristã nas famílias; promover os leigos e leigas em sua missão na igreja.
Quais elementos podem ser aplicados na formação do sacerdote/religioso?
Elemento essencial: a formação deve ter como prioridade ajudar os jovens a se tornarem Homens, isto é, pessoas integradas em sua afetividade; cujas relações com todas as pessoas de todos os sexos, culturas, posições sociais, níveis intelectuais sejam adultas, sem mecanismos neuróticos.
Há 15 anos a Comissão Episcopal para o clero elaborou um documento intitulado: "Linhas Comuns para a vida dos nossos seminários" que aponta alguns enfoques pertinentes. "Pretender formar um padre sem formar junto, e talvez até antes, o homem e o cristão significará inverter a lógica e não conseguir resultado algum." Dar base existencial à figura teológica do presbítero e ao ministério, deixando de vez um espiritualismo emocional (muito em voga hoje) ou um intelectualismo.
Outro elemento será ajudar os formandos a se conscientizarem que é fundamental dar espaço para a valorização dos carismas e ministérios afim de não caírem, como gestores da comunidade, em uma monopolização típica de um novo clericalismo que, ao que me parece, tem surgido em muitas comunidades. Alguns preferem o estresse de fazer todo o trabalho pastoral sozinhos a permitir uma participação ativa de todos os leigos e leigas.
Uma grande carga na formação intelectual filosófico-teológica não desconectada da realidade latino-americana e brasileira. E intensa atenção a uma espiritualidade encarnada na história. Uma espiritualidade bíblica que deve se tornar o núcleo de conscientização da pastoral.
Gerir uma instituição religiosa vai além da técnica, abarcando meios fundamentais da ética cristã, que são atitudes e ações voltadas para edificação de verdadeiras comunidades nestes locais de trabalho, quais conceitos que o senhor percebe que podem ajudar nesse ponto?
O gerenciamento de qualquer instituição e em especial da instituição religiosa deve ter presente a fixação de objetivos, com metas claras, determinação de prioridades, as estratégias a serem usadas e em especial a revisão, o balanço do que foi executado. Voltar com seriedade ao método Ver, Julgar, Agir, Rever, deixado à margem desde a conferência do CELAM em Santo Domingo. Além disto, um conceito bastante esquecido é o humor que é o menor caminho entre as pessoas de uma comunidade.
E fundamentados em nossa fé de que quem vai fazer acontecer e florescer as comunidades é Deus,(1Cor 3,6-9): "Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho".
Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus. Porém, se não plantarmos, nem regarmos nem adubarmos, se não usarmos a técnica estaremos tolhendo a Deus a oportunidade de Ele agir.
Que relação entre Igreja e administração é importante observar no trabalho do gestor eclesial?
Ter continuamente um fluxo de avaliação, isto é, nessa relação Igreja X administração não se pode continuar, no dizer de S. Paulo, "dando socos no ar em contínua agitação". O gestor eclesial ao executar seja lá o que for, com seu grupo básico, precisa avaliar a eficiência, onde se pode melhorar, o que deu certo e o que não deu dentro das metas e prioridades. E como em toda administração o critério da transparência deve prevalecer. Tal transparência não deve dar tranquilidade enquanto ela não chegar a todos tanto pelos meios tradicionais quanto pelos meios informatizados.
Palavras finais
Termino expressando um desejo para a vida de todos os gestores eclesiais. Que tenham Entusiasmo em seu agir. Como sabemos as vogais é que dão forma inteligível às palavras, fazendo-as viver. E entusiasmo tem as cinco vogais de nossa língua, sendo, pois, palavra cheia de vida. Tal entusiasmo deve contagiar o gestor eclesial na caminhada com o Povo de Deus, como se visse o invisível.
Sexta, 19 de abril de 2013.
[Fonte: IHU Unisinos].

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