sexta-feira, 29 de março de 2013

Alemanha deverá cancelar programas climáticos por falta de financiamento


À medida que os preços para as emissões de carbono caem, Berlim planeja cancelar alguns programas de subsídios essenciais, destinados a aumentar a dependência de energias renováveis. A Alemanha e outros países europeus parecem não ter interesse em resolver o problema.

Der Spiegel
O fato de que o governo alemão está enfrentando um déficit orçamentário enorme para projetos destinados a transformar o país num modelo de energia alternativa e respeito ao meio ambiente não é novo. O sistema de cap-and-trade europeu está há meses escorregando para a inconsequência à medida que os preços para as emissões de CO2 permanecem teimosamente abaixo de 5 euros por tonelada. Como resultado, as receitas que Berlim ganha com certificados obrigatórios de emissões sofreram.
A Spiegel apurou que, em resposta, o Ministério do Meio Ambiente está decidido a cancelar este mês vários programas de subsídios emblemáticos --programas que seriam elementos-chave na transição da Alemanha dos combustíveis fósseis para a dependência total de energias renováveis.
Até o final do mês, o ministro do Meio Ambiente, Peter Altmaier, membro do partido conservador da chanceler Angela Merkel, deve cortar o programa destinado a promover carros elétricos, um fundo para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia e um terceiro programa focado em proteger e expandir as florestas na Alemanha, como forma de absorver mais CO2 da atmosfera. Em abril, mais programas estão na lista de cortes, de acordo com um documento interno do ministério, ao qual Spiegel teve acesso. No total, 14 programas ou medidas serão afetados.
A escassez de financiamento que o governo de Merkel enfrenta atualmente é massiva. O orçamento para 2014 inclui 2 bilhões de euros para o Fundo de Energia e Clima, que devem ser gerados por meio da venda e comércio de certificados de emissão de CO2. Mas o cálculo inicialmente previu um preço de 17 euros por tonelada. Os preços reais das emissões, no entanto, foram bem inferiores a isso durante meses e, atualmente, estão abaixo dos 4 euros por tonelada. Um documento apresentado ao gabinete de Merkel na semana passada pelo Ministério da Fazenda prevê um déficit de 1,1 bilhão de euros.
Programa em perigo
Para 2013, é provável que o déficit fique entre 1,2 bilhão e 1,4 bilhão, de acordo com o Ministério das Finanças.
Como parte da abrupta política energética que a Alemanha adotou na primavera de 2011, logo após o acidente nuclear em Fukishima, no Japão, Merkel se comprometeu a eliminar completamente a energia nuclear até a primeira parte da década seguinte. Ao mesmo tempo, Berlim lançou dezenas de programas para melhorar a eficiência energética, aumentar o uso de energias renováveis e preparar a infraestrutura do país para um futuro de dependência de energias verdes.
O programa de "eletromobilidade", que está em risco, por exemplo, deveria colocar 1 milhão de carros elétricos nas estradas alemãs em 2020. Enquanto isso, o fundo para pesquisa de tecnologias de armazenamento de energia prometeu o desenvolvimento de instalações na Alemanha para armazenar a energia criada por turbinas eólicas e painéis solares para nivelar as flutuações de produção. A construção de tais instalações é um ponto chave para ampliar a dependência das imprevisíveis energias renováveis.
Recusa
Os problemas do Sistema Europeu de Comércio de Emissões (ETS) se tornaram agudos, e os preços baixos das emissões dificilmente atuam como fatores de desencorajamento, como esperavam os políticos. Considerando que os preços por tonelada de emissões de CO2 estavam em 30 euros em 2008, eles caíram com a economia da Europa, na esteira da crise financeira global e a consequente crise do euro. Em 2012, o preço de certificados de emissões caiu mais de um terço.
Propostas para consertar o sistema têm sido abundantes, mas está difícil atingir um acordo. Um plano especial, promovido pela Comissão Europeia, prevê a remoção temporária de 900 milhões de certificados para reduzir a oferta como forma de impulsionar os preços, um conceito conhecido como "backloading". A Comissária Europeia para o Clima, Connie Hedegaard, que tem promovido fortemente a proposta, disse em janeiro: "Algo tem que ser feito com urgência. Só posso apelar aos governos e ao Parlamento Europeu para agirem de forma responsável".
Com as economias delicadas em muitos Estados membro, no entanto, o parlamento tem se mostrado indisposto a lançar mais um fardo à indústria europeia. E em Berlim não se chegou a um consenso sobre o plano de backloading. Enquanto o ministro do Meio Ambiente Altmaier é a favor, Philipp Rösler, que é ministro da Economia e chefe dos parceiros menores da coalizão de Merkel, do partido dos Democratas Livres que favorecem o empresariado, é contra e se recusa a ceder.
Tradutor: Eloise De Vylder

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