sábado, 30 de junho de 2012

Libaneses de hoje



Os primeiros que aqui chegaram eram chamados de turcos. Neste grupo está incluído meu avô, que chegou ao Brasil em 1883. Com o nome já oportuguesado de Francisco Marolino Mansor, ficou conhecido como Chico Turco. Existe uma justificativa para o fato: o passaporte era emitido pelo do Governo do Império Turco Otomano, que os dominava por força ocupação.  O domínio turco durou anos.  
Muitos ficaram conhecidos por sírios, este grupo era minoritário na leva da imigração árabe para o Brasil. Mas a maioria ficou mesmo conhecida como libaneses, já que eles predominavam.  Mas a marca e o carimbo de turco carregamos até hoje. Creio que para sempre.   
 Mas a grande leva veio já no século XX. Na medida que se ajeitavam e com algum dinheiro no bolso, sempre financiavam a vida de parentes e amigos. Uma imigração do acolhimento e da gratidão, uma marca verdadeiramente do espírito sírio libanês. 
Um fato marcante no imigrante sírio libanês é a sua grande afinidade e proximidade com a religião. A maior parte veio do seio da Igreja Maronita, que são os católicos romanos do Oriente. Outras religiões também marcaram presença, como os Muçulmanos, Druzos, Ortodoxos e Melquitas. Este assunto merece um parágrafo especial.
A presença da religião na vida dos árabes é marca registrada, bem como a convivência pacifica, pelo menos da nova pátria. Nunca ouvi falar de confronto religioso na colônia árabe. Está situação se contrapõe a máquina de informação que temos hoje, onde coloca o povo árabe como terrorista e fanático. Dois casos que posso citar
O avô da psicanalista Cristina Chequer Gomes era libanês e viveu 80 anos, mas no ano de 2003 descubrimos no Arquivo Público Estadual, que além do nome de família Chequer, seu avo tinha Elachi. Neste mesmo ano ela numa viagem ao Libano encontrou com os seus parentes e teve uma informação interessante. O seu avô era muçulmano. Cristina me revelou que o seu avô já com idade avançada às vezes falava sozinho e a relação primeira era de que ele tinha os tradicionais problemas da idade. Mas hoje ela fala que na realidade ele estava rezando quando falava sozinho. A família nunca soube que ele era muçulmano. 
Outro fato é com relação a colônia libanesa da cidade do Alegre, onde havia muitos Druzos. Segundo a “brima” Odete Jamil Amin, um dia o Monsenhor Pavesi reuniu todos os Druzos e os batizou dizendo que daquele momento em diante eles seriam católicos. O espírito de cordialidade dos brimos prevaleceu e eles levaram a vida como se nada tivesse acontecido.
Estes dois exemplos mostram como o nosso povo encara a vida e dela sempre tira o melhor proveito. Os patrícios sabem viver em comunidade e desta forma estão presentes no Espírito Santo de norte a sul. A força da convivência e do diálogo com as comunidades os fizeram ter uma adaptação no novo meio, na terra estranha para os que aqui chegaram primeiro.
Os nossos antepassados vieram como turcos, mas na realidade eram sírios e libaneses. Aliás, sempre que querem tentar nos tirar do sério, nos chamam de turco. Quando criança, morando no Alegre e em Castelo, eu e meus irmãos e irmãs erámos chamados de turquinhos. Mas na realidade somos hoje todos brasileiros, com o coração árabe. Por isto quem sinal de profundo respeito a meu avô e aos seus patrícios que deixaram a terra natal para vir ao Brasil, costumo dizer: Líbano, minha alma veio de lá.
Se nas tuas veias corre sangue árabe, vamos nos encontrar para juntos escrever a História dos que nos antecederam, dos que vieram de longe para construir uma vida nova no Brasil. Libaneses, uni-vos. ronaldmansur@gmail.com

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