domingo, 27 de maio de 2012

EM MUNIZ FREIRE, GRUPO DOS ONZE. OS GRUPOS DE ONZE COMPANHEIROS.


GRUPO DOS ONZE.
OS GRUPOS DE ONZE COMPANHEIROS.
“Povo desunido, povo desorganizado é povo submetido”. Assim pensava em1963, o então deputado federal Leonel de Moura Brizola. A frase, ainda atual, resume bem a agitação política existente no governo João Goulart, onde esquerda e direita radicalizavam a sua atuação política. Foi pregando sobre a necessidade de organização do povo para que o mesmo se libertasse da pobreza e exploração internacional, que Brizola começou a discursar na rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. Em novembro de 1963, é lançada por ele a ideia de formar os “Grupos de Onze Companheiros” ou “Comandos Nacionalistas”.
Leonel Brizola desempenhava importante papel na política brasileira. Após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, liderou a Campanha da Legalidade para defender a posse do vice-presidente João Goulart, adiando de certa maneira o golpe que se concretizaria em 31 de março de 1964. Os discursos em defesa da constituição fizeram dele um grande líder político, principalmente entre as esquerdas.
Ao propor a criação dos grupos, Brizola se inspirou no futebol, dada a proximidade do país com esse esporte. Cada grupo seria formado por onze pessoas e um integrante seria escolhido o capitão. No início, dois ou três começariam até chegar ao número de onze, e as reuniões seriam realizadas nas casas dos membros. Com os onze definidos, lavrariam a ata de fundação com o nome de todos e informariam por carta ou pessoalmente, a criação do grupo ao deputado Leonel Brizola, na sede da rádio Mayrink Veiga.
Segundo o criador, o movimento iria lutar pela “defesa das conquistas democráticas, resistência a qualquer tentativa de golpe, instituição de uma democracia autêntica e nacionalista, imediata concretização das reformas, em especial das reformas agrária e urbana, e pela libertação da pátria da espoliação internacional”. Para atingir essesobjetivos, os grupos iriam articular ações, em todo o Brasil. Ressalte-se que nada era clandestino, e sim totalmente aberto e público, visto que as instruções para a criação dos grupos eram transmitidas via rádio para todo o país.
O discurso visando à melhoria das condições de vida do povo, fez com que a ideia tivesse grande aceitação popular. A oposição ao movimento também teve força, os conservadores o acusavam de terrorista, e a imprensa publicava notícias ilusórias sobre as possíveis ações dos grupos, sempre os associando ao comunismo.
Interessante notar, é que a imprensa, tentando atrapalhar o movimento, acabou por supervalorizar o mesmo, chegando a causar pânico na direita civil-militar, que imaginava estar próxima uma guerra civil dentro do país. Vale lembrar também, que o Partido Comunista Brasileiro foi contrário à iniciativa de Brizola, o que arruína a ideia de associar esse movimento ao comunismo.
O número de participantes é incerto, mas cálculos do professor Cibilis Viana, que fazia parte da organização, informam que as vésperas do golpe, já haviam se formado cerca de 100 mil grupos. O historiador Jorge Ferreira, apresenta dados do ex-deputado Neiva Moreira, com cerca de 60 a 70 mil militantes organizados.
No meio desses milhares de seguidores Brasil a fora, a cidade de Muniz Freire foi representada. O grupo formado a partir da liderança de Jonatas Ribeiro Soares tinha os seguintes membros: Ângelo Cizotto, Carlinho José de Arêas, Ilton Vieira, Jair Ribeiro Soares, Lino Ribeiro Soares, Mario Ribeiro Soares, Mauro Rodrigues de Oliveira, Nelson Bolzan, Renato Viana Soares e Rômulo Araújo. A adesão se deu pela admiração a figura de Brizola, e por sua luta a favor dos mais pobres.
Com o golpe consolidado, estes grupos foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e injustamente perseguidos com prisões e outras barbaridades cometidas pelo novo regime. Em Muniz Freire, também aconteceram perseguições e prisões. A pena foi cumprida no Fórum local, e diferente de outras cidades, aqui os presos foram bem tratados. O dossiê “Grupo dos Onze”, existente no Arquivo Público Estadual, menciona a condenação de alguns: Jonatas (um ano de reclusão), Mauro (seis meses), Nelson (seis meses), Rômulo (seis meses), Carlinho (seis meses) e Ângelo (seis meses). Vale destacar que Renato, Ilton e Jair também foram condenados. No caso de Mario e Lino, houve o indiciamento, mas o processo não foi em frente e, portanto, não houve condenação.
Além da perseguição oficial, eles sofreram com o preconceito de parte da sociedade que erroneamente os ligava ao comunismo. É bom frisar que o grupo de Muniz Freire também não praticou atos ilegais, e, portanto, o preconceito, a perseguição e posterior condenação foram injustas.
Mesmo com toda dificuldade, esses grupos deixaram marcas e se constituíram numa inovação em estimular as massas. Em entrevista ao jornalista FC. Leite Filho, o sociólogo Herbert de Souza, um dos últimos coordenadores dos Grupos dos Onze no Brasil, dimensiona o movimento: “Era uma coisa que crescia espontaneamente. O Brizola pegava a rádio Mayrink Veiga, que todo mundo escutava e dizia o seguinte: Reúnam 11 companheiros, peguem os nomes deles e nos enviem cópias. E começavam a surgir os comitês. E se formou Grupo dos 11 em todo lugar”.
A verdade, é que o movimento, até então promissor, não teve tempo de prosperar. Dias antes do golpe, as primeiras reuniões estaduais e uma nacional, ainda estavam sendo organizadas. A rapidez do movimento golpista o impediu de produzir maiores resultados.
Na memória dos membros muniz-freirenses entrevistados, ficaram as lembranças de uma luta justa e pacífica, mas que foi derrubada por um golpe civil-militar que maltratou não só onze pessoas, mas a maioria de um país.
Herbert Soares Caçador – 31 de Março de 2012.
Muniz Freire/ES
Publicado no suplemento PENSAR do jornal A Gazeta de 26-05-2012

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