sexta-feira, 16 de março de 2012

40 ANOS SE PASSARAM


40 ANOS SE PASSARAM
Em agosto deste ano, 2012, vai completar 40 anos que pela primeira vez fui a Santa Teresa, numa missão muito ingrata e constrangedora: comunicar ao cientista Augusto Ruschi que ele não poderia falar na semana da Engenharia daquele ano, 1972, uma promoção já tradicional na vida acadêmica dos estudantes. O convite ao cientista era para ter dele, um homem estudioso dos problemas ambientais, a sua opinião sobre o projeto do complexo siderúrgico que estava sendo projetado para a área do Porto de Tubarão. Certamente ele iria abordar a direção dos ventos, que ele iria abortar como ponto central a ação do vento nordeste, aquele que passa pelo município de Serra e vem em direção a cidade de Vitória e depois passa por Cariacica, Vila Velha e Viana.
Na época a proibição foi feita pela Reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo. A delegação incumbida de levar a triste mensagem era composta pelos estudantes de Engenharia, Carlos Alberto Perim (presidente do Diretório Acadêmico) e José Fernando Destefani dos Santos, Domingos Perim que era dono do carro e este quem escreve estas linhas que estava começando a se aproximar do cientista, em função do seu trabalho jornalístico no jornal O Diário.
Lá em Santa Teresa entramos por um portão secundário e fomos encontrar com Ruschi, que nos esperava na varanda. Depois de receber o relato, Ruschi foi direto e objetivo: estão querendo calar a minha voz na minha terra ao me proibirem de falar aos universitários. A voz abafada pela Ufes, mas após aquele dia em diante, Ruschi bradou e gritou sempre mais alto, mesmo que não tivesse acolhida por parte das autoridades.
Uma lembrança que carrego é o momento que Ruschi chorou ao saber da barreira, mais uma das muitas que ergueram contra ele. A Ufes que deveria ser o centro de acolhimento das divergências e das diferenças entre pessoas, grupos, idéias, ideologias e entidades, passou a ser o centro da censura. A direção da Ufes negou com violência e truculência a participação de Augusto Ruschi no debate sobre as conseqüências  que a instalação de um complexo siderúrgico traria para a comunidade da Grande Vitória em termos de meio ambiente. Naquele momento o papel da Universidade foi subtraído e jogado no lixo como centro formador de opinião e um centro democrático do saber. Assim agem os prepotentes e os seus agentes, assim agiu a Universidade Federal do Espírito Santo. A direção da Universidade apequenou-se.
Assim se age numa terra onde a arrogância e a prepotência estão  acima e em cima do conjunto da população. Assim foi feito e Augusto Ruschi não falou na Semana da Engenharia, que inclusive não aconteceu. Mas a voz de Augusto Ruschi ecoou em outros lugares, bem como o vento nordeste continua insistindo em tocar no sentido Serra para Vitória por meses e meses. Não há ninguém que mude esta rota..., nem a arrogância dos prepotentes e a censura.
ronaldmansur@gmail.com

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