terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ADOLFO AGOSTINI, O ARTESÃO.



Adolfo Agostini, neto de imigrantes vênetos, nasceu no município de Alfredo Chaves, e dentro do regime patriarcal que o imigrante italiano trouxe, continuou a tarefa do avô e do pai: dedicou-se à agricultura na terra que herdou.

As alterações da economia que afetaram todos os descendentes de e imigrantes de sua geração que se dedicavam a agricultura num regime de pequena propriedade, o forçaram a vender um terreno de poucos alqueires e ir pra cidade. Um outro motivo apressou a sua saída de Alfredo Chaves: a saúde da mulher, que precisava de constante acompanhamento médico..

Na cidade nada tinha a fazer, porque pouco tinha a oferecer em Cachoeiro de Itapemirim, um mercado saturado de profissões de baixa renda. Passou então a se valer de sua habilidade manual e na casa pobre do bairro do Valão começou a dar forma às cenas que a sua memória guardava da vida na roça, onde ficara mais de 40 anos. É a palha de milho, de coco, o cipó e a taquara, tornaram matéria prima que ele transformava em burros de carga, em lavradores com enxada nas costas, na galinha com uma ninhada de pintos, no trabalhador acompanhado do seu cachorro, sanfoneiros e violeiros, cavaleiros, juntas de boi puxando carroça, agricultor colhendo milho com balaio às costas. E num dragão propositadamente feio, atacado por um cavaleiro armado, esta a ligação com a religiosidade herdada de seus antepassados.

Mas o tempo – já há quase 20 anos na cidade – vai fazendo com que o lado das lembranças da vida rural, acrescente a influencia do meio. Não é de admirar que Adolfo Agostini já tenha começado a produzir modelos Wolkswagen em madeira. A diversidade de sua produção está presente na maioria dos estados brasileiros e em algumas partes do Mundo, levadas por visitantes que passam em Cachoeiro.

Lá o ponto de referencia de Adolfo Agostini não é a sua casa no Valão, e sim a de Nair Coelho dos Santos, mulher que reúne as condições de viúva, professora do Sesi, doceira de fino gosto e um pouco de mãe de todos. A sobrevivência de Adolfo Agostini como artesão esta diretamente ao coração de mãe de Nair, que vai passando os seus trabalhos às pessoas que freqüentam a sua casa, e que não são poucas.

Através de Nair, Adolfo ganhou outro divulgador, neto de italianos, como ele: Augusto Ruschi. Em 1975 Nair entregou a Adolfo um pôster da Companhia Souza Cruz e uma folhinha da mesma empresa, com figuras de beija-flores voando e se alimentando de néctar. Poucos dias depois ele voltava com figuras dos pássaros idêntica ao do pôster e da folhinha. O trabalho de Adolfo Agostini foi parar nas mãos de Ruschi, o homem que havia feito as fotografias. O cientista ficou satisfeito, porque via em suas mãos, em forma de artesanato, o reconhecimento de sua obra, vindo de um descendente de imigrantes como ele. Hoje, Augusto Ruschi é um grande comprador dos trabalhos de Adolfo Agostini e seu divulgador.

Com mais de 60 anos, Adolfo se sente enfraquecido, depois de dois longos períodos hospitalizado. E enquanto espera sua aposentadoria, não como artesão, recusa-se a adptar-se a certas técnicas modernas de mercado, como a venda a prestação. Certa vez vendeu um burrinho e demorou quase um ano para receber as prestações da venda. Decidiu então que aquela seria a primeira e a última vez: quem tem a arte como sobrevivência não pode dar-se a esses luxos.

EM TEMPO:
Este texto foi publicado na Revista CUCA, Número zero, de fevereiro de 1977, Fundação Cultural do Espírito Santo, editada por Hesio Pessali. Eu quando ia a Cachoeiro trazia os trabalhos de Adolfo Agostini e os revendia durante o meu trabalho na Redação e nos locais onde ia fazer reportagens. 

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